Olá, aqui quem fala é a Caipora
Etnomidia Indígena Insurgente contra colonial
A Caipora é uma plataforma de etnomídia indígena, concebida e realizada exclusivamente por comunicadores indígenas brasileiros. Inspirada na figura da Caipora, a guardiã das florestas na cultura Tupinambá, nosso projeto surge como um protetor das vozes e narrativas dos povos originários do Brasil.
Assim como a Caipora defende a natureza contra invasores, nossa missão é proteger e amplificar as histórias, culturas e lutas indígenas, utilizando a comunicação como uma ferramenta de resistência e empoderamento.
A Caipora nasceu da necessidade urgente de criar uma mídia que verdadeiramente represente as comunidades indígenas, oferecendo um espaço onde possamos narrar nossas próprias histórias com autenticidade e respeito. Somos uma estrutura multiplataforma, operando em diferentes formatos e canais – desde vídeos e podcasts até transmissões ao vivo e publicações digitais. Cada conteúdo é produzido com o objetivo de desconstruir estereótipos, preservar saberes ancestrais e ampliar o entendimento sobre as realidades vividas pelos povos indígenas.
Nossa História
A história da comunicação indígena no Brasil é marcada pela resistência. Desde as primeiras iniciativas nos anos 70, quando as comunidades Kaingang, Xokleng e Guarani lançaram o informativo Luta Indígena, até o icônico “Programa de Índio” liderado por Ailton Krenak nos anos 80, os povos indígenas têm lutado para romper as barreiras impostas pelas narrativas coloniais. A Caipora continua essa trajetória, utilizando a tecnologia moderna como uma “flecha digital”, capaz de conectar comunidades, preservar memórias e fortalecer a resistência indígena. Inspirados pelas iniciativas pioneiras, nosso objetivo é levar a etnomídia indígena a um novo patamar, garantindo que as vozes indígenas sejam ouvidas e respeitadas em todo o Brasil.
Caipora não é lenda é presença, é resistência viva.
A Caipora não é só um conto transmitido na infância. Não é apenas uma figura do “folclore brasileiro” escolarizado e dessacralizado pelo olhar branco. Ela é encantada, e essa palavra, para os povos originários, tem peso e verdade. Ser encantado é ser outro tipo de existência: nem humana, nem animal, nem espírito – mas tudo isso ao mesmo tempo. É viver entre os mundos. É agir nos corpos, nas florestas e nos sonhos. A Caipora é uma das mais antigas e reverenciadas entidades da cosmologia indígena, especialmente entre os povos de língua Tupi, mas não apenas. Seu nome muda conforme o território: Caipora, Caapor, Iuraretê, Mãe do Mato, Mãe das Caçadas. Cada povo lhe atribui feições diferentes, mas todos reconhecem sua função: zelar pela floresta e punir os que nela entram sem reverência.
Guardadora dos Animais e Guardiã dos Caminhos
A Caipora vive na mata, sim. Mas não como um animal selvagem. Ela é a senhora dos caminhos ocultos. Os relatos ancestrais dizem que ela cavalga sobre um porco-do-mato, fuma um cachimbo ou carrega um bastão encantado, com o qual desorienta caçadores e madeireiros. Muitas vezes aparece no entardecer ou em sonhos, como aviso ou ameaça. Mas sua forma é mutável: pode ser mulher, homem ou transitar entre gêneros, como ocorre com muitos encantados indígenas.
Ela tem domínio sobre os bichos e conversa com eles. Quando alguém entra na mata para caçar sem pedir licença, a Caipora esconde os animais. Quando alguém fere por prazer, ela fere também. Quando alguém desrespeita a mata, ela muda o caminho, embaralha o tempo, confunde a bússola. Sua arma não é a violência colonial – é o poder de interromper o curso da destruição.
Encantada, e não folclórica: a Caipora e a resistência ao apagamento
O projeto colonial, ao invadir o território indígena, tentou também invadir o mundo encantado. Fez isso com a Bíblia, com a escola, com a ideia de que a floresta é “recurso” e que os encantados são “mito”. Tentou apagar Caipora, transformando-a em personagem infantil, domesticada, inofensiva. Mas a Caipora sobreviveu. Em aldeias, nas retomadas de território, nas danças de jurema, nas memórias dos mais velhos e nos sonhos dos mais jovens, ela continua presente. Ela é uma contra-pedagogia. Ela ensina pela inversão: não há floresta sem espírito, não há território sem encantado, não há cura sem reverência ao invisível. Por isso, a Caipora representa uma das mais potentes insurgências espirituais contra o modelo colonial-extrativista. Ela não aceita avanço de gado, soja, trator ou cruz missionária. Ela vive em outras lógicas: do segredo, do desvio, da presença. Ela desorganiza o progresso.
Floresta com alma, encantada com nome
Dizer “a Caipora existe” é dizer que a floresta tem alma, que os animais têm direito de não ser mortos, que o território tem seus próprios guardiões. Não é metáfora. É cosmovisão. Para os povos indígenas, não há “natureza”: há parentes, visíveis ou invisíveis, de carne ou de fôlego, com corpo ou com vento. Ela aparece nas narrativas dos Kambeba do Alto Solimões, nas cantigas dos Kariri-Xocó em Alagoas, nos relatos dos Guarani em São Paulo, nas histórias dos Tupinambá da Bahia. Onde há floresta, há encantamento. Onde há encantamento, há Caipora. Ela é o elo entre o mundo dos vivos e o mundo dos não-ditos. O que o branco chama de “mito”, o povo da floresta chama de “verdade profunda”.
Por que a encantada Caipora guia nossos caminhos
O projeto Caipora carrega esse nome não como homenagem ao folclore, mas como compromisso com a resistência encantada. Porque não queremos apenas denunciar o desmatamento: queremos reencantar a luta. Queremos escutar o que a floresta grita quando tudo parece em silêncio. Assumir a Caipora é assumir o papel de guardião, de vigia, de contra-hegemonia. É acreditar que há sabedorias que não cabem nos livros, há justiça que não passa pelos tribunais, há cura que vem do silêncio do mato. É atuar na fronteira entre o visível e o invisível. É lutar com outros instrumentos: com os cantos, com os sonhos, com os ventos.
Caipora é verbo: proteger, desviar, assombrar, reencantar
A Caipora não está no passado. Ela está em movimento, como os rios. Está nos corpos que resistem, nos povos que retornam, nas matas que não se deixam colonizar. Está nos encantados que não aceitaram a conversão. Está nos gritos abafados da terra. Ela é verbo de luta e de cura. Por isso, quando dizemos “somos Caipora”, afirmamos:
Que defendemos os territórios do visível e do invisível.
Que reconhecemos a existência política dos encantados.
Que não aceitamos uma floresta sem alma nem uma luta sem espírito.
Que invocamos saberes vivos, não autorizados, não colonizados.
Que resistimos ao apagamento espiritual de nossas raízes.
Caipora vive. E nos guia.
Nossa missão
A Caipora tem como missão:
• Difundir a cultura indígena através de uma comunicação autêntica, que agrega a sabedoria ancestral e o alcance da tecnologia moderna.
• Empoderar jovens comunicadores indígenas, oferecendo capacitação e suporte para que possam produzir e disseminar conteúdo de qualidade.
• Descolonizar a mídia brasileira, rompendo com as narrativas centradas na visão ocidental e promovendo uma comunicação plural e inclusiva.
• Conectar comunidades indígenas e não indígenas, criando pontes de entendimento e colaboração através da comunicação.
O Que Fazemos
Na Caipora, produzimos uma ampla gama de conteúdos que incluem:
• Vídeos documentais sobre a vida cotidiana e as tradições das comunidades indígenas.
• Podcasts e programas de rádio que discutem as questões políticas, sociais e culturais que afetam os povos indígenas.
• Transmissões ao vivo de eventos, rituais e manifestações, trazendo uma perspectiva autêntica e em tempo real.
• Publicações digitais que exploram temas como a preservação ambiental, os direitos indígenas e as lutas por território.
Junte-se a Nós
A Caipora é mais do que uma plataforma de comunicação – é um movimento de resistência, um espaço de empoderamento e uma ferramenta para a construção de um Brasil verdadeiramente plural. Convidamos você a fazer parte dessa jornada. Com seu apoio, podemos continuar a amplificar as vozes indígenas e construir uma nova narrativa para o Brasil.
Apoie a Caipora. Vamos juntos tecer essa rede de resistência e transformação.