Violência e impunidade na Terra Indígena Ventarra: comunidade Kaingang clama por justiça e reconhecimento do novo cacique eleito
A Terra Indígena Ventarra, situada no município de Erebango/RS, vive um dos momentos mais críticos de sua história recente. Após a destituição da antiga liderança e a eleição democrática de um novo cacique, a comunidade Kaingang enfrenta uma escalada de violência, ataques armados e clima de medo e impunidade.
Sumário
Destituição da ex-cacica e escolha do novo líder
Segundo documentos apresentados pela própria comunidade, entre eles o abaixo-assinado para destituição da ex-cacica Toguila e a ata de eleição do novo cacique Sidnei da Silva, cerca de 90% dos indígenas da aldeia manifestaram apoio à mudança de liderança, alegando diversas irregularidades administrativas e condutas abusivas e ilícitas praticadas durante o mandato anterior.
A escolha do novo cacique, feita por consenso popular pela ampla maioria em assembleia aberta, foi comunicada oficialmente às autoridades competentes — entre elas a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), o Ministério dos Povos Indígenas, o Ministério Público Federal e a Polícia Federal —, em busca de reconhecimento e acompanhamento para garantir o respeito à decisão do povo Kaingang e à autonomia comunitária prevista na Constituição Federal de 1988 e na Convenção 169 da OIT .
Ataques e escalada de violência
Desde a mudança de liderança, a aldeia passou a enfrentar ações de retaliação de grupo armado promovidas por apoiadores da antiga gestão. O primeiro ataque armado ocorreu em 15 de setembro de 2025, quando um grupo fortemente armado invadiu parte da comunidade, resultando na morte do indígena Luiz Adriano da Silva Domingues, além de casas saqueadas, bens destruídos e famílias expulsas de suas residências.
De acordo com relatos colhidos entre moradores e lideranças locais, nenhum dos responsáveis pelo ataque foi detido até o momento, o que tem gerado um sentimento generalizado de impunidade e abandono por parte das autoridades. “Esses crimes ainda não foram solucionados. As famílias estão com medo, desabrigadas e pedem apenas justiça e proteção”, relatou um membro da comunidade.
Novo atentado armado em outubro
A situação se agravou no dia 13 de outubro de 2025, quando ocorreu um novo ataque a tiros contra o acampamento onde se abrigavam famílias apoiadoras do novo cacique Sidnei da Silva. Segundo informações da própria comunidade, o local foi alvejado por uma sequência intensa de disparos de armas de grosso calibre, por volta das 19 horas, atingindo a área onde estavam mulheres, crianças, idosos e gestantes. Moradores descrevem o episódio como “um verdadeiro cenário de guerra e terror”. Mais de 120 pessoas estavam presentes no acampamento e nas proximidades da casa do novo cacique, e afirmam que a ação foi planejada e executada por grupos fortemente armados, ligados a interesses contrários à nova liderança.
Silêncio e omissão das autoridades
A comunidade afirma ter comunicado os fatos às autoridades locais, estaduais e federais, mas não houve até o momento uma resposta efetiva. “Esperamos que o Ministério Público Federal, a Polícia Federal, a Funai e o Conselho dos Povos Indígenas do RS se manifestem sobre esse cenário de caos e medo”, disse um dos representantes locais.
Lideranças indígenas e apoiadores do novo cacique pedem investigação rigorosa sobre as origens dos ataques e sobre possíveis articulações externas, incluindo supostos grupos armados que estariam sendo financiados para atuar dentro da aldeia. Há também denúncias de que um indivíduo ligado à antiga liderança estaria coordenando ações criminosas mesmo estando sob custódia prisional no Presídio Regional de Passo Fundo, o que reforça a necessidade de apuração urgente pelos órgãos de segurança e pelo sistema de justiça.
Pedido por paz, respeito e democracia
A comunidade Kaingang da Terra Indígena Ventarra reforça que a troca de liderança foi um processo legítimo, pacífico e democrático, e que a vontade da ampla maioria da aldeia deve ser respeitada. O povo pede que as forças policiais e o Ministério Público Federal atuem com firmeza para desarticular milícias armadas que ameacem a integridade física e o direito à autodeterminação indígena. “Queremos apenas viver em paz, ver nossas famílias seguras e que a decisão do nosso povo seja respeitada. A democracia dentro da aldeia também é um direito indígena”, afirmou uma das lideranças locais.
Clamor por justiça
Entre as solicitações feitas às autoridades estão:
- A investigação completa dos ataques ocorridos em setembro e outubro de 2025;
- A prisão e responsabilização dos envolvidos;
- O reconhecimento formal da legitimidade do novo cacique Sidnei da Silva;
- A proteção imediata das famílias ameaçadas na Terra Indígena Ventarra.
Enquanto a justiça não se pronuncia, a comunidade vive em constante medo — cercada por incertezas, ameaças e silêncio institucional.
Por Redação – Correspondente Especial em Erebango (RS)
Com informações de lideranças da Terra Indígena Ventarra e documentos oficiais encaminhados às autoridades públicas.








