A evangelização como ferramenta de controle colonial no século 21
Introdução – O Disfarce da Missão
No Brasil do século XXI, o velho projeto colonial veste uma nova roupagem. Onde antes se impunham cruzes e castigos, hoje se oferecem diplomas, bolsas de estudo e promessas de acolhimento. A missão, no entanto, permanece a mesma: conquistar territórios e consciências. Só que agora, em vez de padres com batinas, surgem jovens sorridentes, formados em universidades privadas, empunhando estetoscópios, mochilas e Bíblias disfarçadas de projetos sociais. Essa é a engrenagem que move a UniMissional, uma estrutura missionária acoplada à UniCesumar — um dos maiores conglomerados de ensino superior privado do país — que transforma fé em método e salvação em estratégia.
Sumário
- Introdução – O Disfarce da Missão
- A longa sombra da catequese
- A máquina por trás da Missão
- O eixo do poder: Deus, Pátria e Dinheiro
- A lei da terra vs. a lei de deus
- A Caipora Resiste: espiritualidades insurgentes e alianças de reencantamento
- A Missão Continua, o Quebranto Não Terminou
- Referências citadas
Lançada oficialmente em 2020, em plena pandemia, a UniMissional nasce com uma proposta aparentemente inofensiva: formar profissionais comprometidos com valores cristãos, preparados para servir em comunidades vulneráveis.1 Mas seu objetivo real ultrapassa os muros da universidade. A instituição é uma incubadora de evangelizadores travestidos de psicólogos, fisioterapeutas e arquitetos, moldados para atuar em territórios indígenas e populações tradicionais como “agentes de conversão”.2 É um modelo que combina ensino universitário e doutrinação religiosa com o claro propósito de evangelizar “povos não alcançados” — e que contou, não por acaso, com amplo apoio político e financeiro do governo de Jair Bolsonaro.3
Com sede em Maringá, no Paraná, a UniMissional opera a partir da infraestrutura robusta da UniCesumar, que detém centenas de polos de ensino a distância em todo o Brasil e no exterior.4 Essa capilaridade permite que o projeto atinja públicos diversos com a promessa de formação acadêmica de qualidade somada à missão de levar o “Reino de Deus” a qualquer lugar. O método é sofisticado e sintonizado com o zeitgeist bolsonarista: o apelo à moral cristã, o empreendedorismo evangélico e o uso estratégico do Estado para fins privados e confessionais.
Por trás dos cursos, das casas coletivas e das narrativas de voluntariado, esconde-se uma poderosa articulação entre religiosidade, lucro e um projeto colonial em pleno funcionamento. A parceria com figuras-chave do governo anterior, como Michelle Bolsonaro e Damares Alves, e o recebimento de quase R$ 400 mil por meio do programa Pátria Voluntária, revelam que essa missão não é isolada — é parte de uma estratégia maior, alinhada a uma guerra cultural de natureza política e espiritual.5
Disfarçados de benfeitores, os missionários formados pela UniMissional miram os territórios mais protegidos do país, como o Vale do Javari, onde vivem povos isolados.7 Criam vínculos, oferecem ajuda, apresentam o Evangelho e, com isso, minam as bases das cosmologias e dos modos de vida originários. Um novo colonialismo que, se antes se impunha com o terror, agora avança como promessa de salvação, financiado, em parte, por um emaranhado de recursos que tocam o dinheiro público.
Esta não é apenas a história de uma instituição, mas a anatomia de um projeto de poder que instrumentaliza a educação para fins de proselitismo. Um projeto que se beneficia de brechas legais, da omissão estatal e de alianças políticas para continuar uma cruzada de cinco séculos contra a autonomia dos povos originários. A cruz deu lugar ao diploma, mas o alvo permanece o mesmo: o controle sobre os corpos, os espíritos e os futuros dos povos indígenas.
Nesta reportagem especial, a Caipora investiga como a UniMissional opera como um braço moderno do projeto colonial cristão no Brasil. Mostramos os bastidores dessa aliança entre fé e poder, revelamos o uso de dinheiro público para evangelizar territórios indígenas e analisamos como a lógica missionária reconfigura a luta dos povos originários por autonomia, espiritualidade e território.

A longa sombra da catequese
Para compreender a UniMissional, é preciso olhar para trás. A evangelização dos povos indígenas no Brasil nunca foi apenas uma questão de fé; foi, desde o início, uma ferramenta de dominação territorial e cultural.8 A chegada dos jesuítas em 1549, com a primeira comitiva do governador-geral Tomé de Sousa, inaugurou um método de catequese que atrelava a conversão ao trabalho forçado e à submissão a valores eurocêntricos. A missão declarada era salvar almas, mas a prática servia aos interesses da Coroa Portuguesa, que via na conversão uma estratégia para consolidar seu domínio sobre a nova terra.
O método jesuíta, consolidado ao longo de dois séculos, baseava-se em três pilares: a instalação de aldeamentos em torno de uma igreja; a catequese propriamente dita; e o “descimento”, um eufemismo para o deslocamento forçado de novos grupos indígenas para os assentamentos missionários.10 Essa concentração não apenas facilitava a doutrinação, mas também garantia um fluxo contínuo de mão de obra para os empreendimentos da Coroa e da própria Igreja, que lucrava com fazendas, engenhos e olarias.8 Na Amazônia, a catequização foi particularmente violenta, com milhares de indígenas aprisionados para construir igrejas e servir como remadores em expedições militares.8
O resultado desse processo foi um duplo extermínio: o genocídio, pela violência e pelas doenças trazidas pelos europeus, e o etnocídio, pela supressão forçada de culturas, línguas e cosmologias.8 A destruição da cultura indígena era vista pelos próprios religiosos como um símbolo do sucesso de sua empreitada, uma vitória da “civilização” sobre a “barbárie”. Essa visão de mundo, que nega ao outro o direito de existir em seus próprios termos, é a semente do projeto colonial que se perpetua até hoje.
A partir do século XIX, um novo ator entrou em cena: as missões protestantes. Com a chegada de denominações oriundas principalmente do sul dos Estados Unidos, como as igrejas Presbiteriana, Metodista e Batista, os povos indígenas foram novamente definidos como um alvo prioritário para a evangelização.11 Esse movimento marcou a transição de um monopólio católico para um campo missionário mais diverso, mas manteve a premissa fundamental de que as culturas e espiritualidades indígenas deveriam ser substituídas pela fé cristã.
Essa lógica persiste e se intensifica com as vertentes neopentecostais contemporâneas. O proselitismo religioso ataca o coração da organização social indígena ao demonizar rituais e deslegitimar lideranças espirituais como os pajés, que são os guardiões da memória e da coesão comunitária.12 O documentário “Ex-Pajé” (2018) retrata com crueza a dor e o desmantelamento causados por essa perseguição no território dos Paiter Suruí, onde um antigo e poderoso pajé se vê impotente e questionado após a chegada de missionários evangélicos.14
Essa fragmentação interna, que opõe convertidos e tradicionalistas dentro da mesma comunidade, enfraquece a resistência coletiva contra ameaças externas, como as invasões de garimpeiros, madeireiros e do agronegócio — setores que, não por acaso, formaram a base de apoio político do governo Bolsonaro.13 Como alerta Roberto Antonio Liebgott, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), essa divisão impede que os povos reajam à negação de seus direitos, incluindo a própria demarcação de suas terras.14
A evangelização, portanto, continua sendo uma estratégia geopolítica. Ao desarticular a resistência local, ela abre caminho para interesses econômicos que cobiçam os recursos naturais em territórios indígenas. A UniMissional, com sua moderna roupagem educacional, insere-se precisamente nesta longa e conflituosa tradição, atualizando as táticas, mas mantendo o mesmo objetivo colonial de fundo.
Mas qual é o real destino desses jovens missionários?

A máquina por trás da Missão
A UniMissional não surgiu no vácuo. Ela é um desdobramento estratégico de um dos maiores conglomerados educacionais privados do Brasil: o Centro Universitário Cesumar (UniCesumar). Fundada e liderada pelo reitor Wilson de Matos Silva, a UniCesumar é uma instituição de grande porte, classificada com nota máxima pelo Ministério da Educação (MEC) e posicionada entre as 4% melhores do país.16 Seu campus principal em Maringá, Paraná, com mais de 100 mil metros quadrados, tornou-se a base de operações para o projeto missionário.4
A família Matos Silva, que controla a instituição, possui notáveis conexões políticas. No início do governo de Jair Bolsonaro, o reitor Wilson de Matos Silva, que já foi suplente de senador, chegou a ser cotado para assumir o Ministério da Educação e, posteriormente, foi nomeado para uma cadeira no Conselho Nacional de Educação, embora tenha declinado da nomeação por “razões pessoais”. Essas conexões de alto nível em Brasília foram cruciais para o ambiente favorável em que a UniMissional foi concebida e lançada.
A UniMissional é uma criação de Weslley Kendrick Silva, filho do reitor e, ele mesmo, uma figura de múltiplos papéis: Diretor de Capelania da UniCesumar e pastor.17 A inspiração para o projeto, segundo Weslley, veio após uma viagem aos Estados Unidos, onde conheceu estudantes que queriam “servir ao Reino de Deus com os conhecimentos adquiridos na universidade”.2 A primeira turma piloto, com 14 alunos, teve início em 2020, conforme edital de 2019.2
A estrutura foi montada de forma engenhosa e deliberadamente ambígua. Embora opere sob o nome “UniMissional”, sua razão social é “Instituto Missional”, com um CNPJ distinto da UniCesumar.18 Apesar da separação jurídica, o instituto está sediado dentro do campus universitário, utiliza os mesmos números de telefone e é apresentado como um programa intrinsecamente ligado à universidade.18 Essa simbiose operacional, protegida por uma distinção legal, cria uma névoa que dificulta a fiscalização e a responsabilização, permitindo que o projeto missionário se beneficie da reputação e dos recursos da universidade sem estar formalmente subordinado a ela.
O modelo de negócio, resumido no slogan “Missão e profissão: juntas, ao mesmo tempo”, é a chave da estratégia.18 Os alunos cursam uma graduação formal na UniCesumar — em áreas como psicologia, direito, fisioterapia ou engenharia — e, simultaneamente, participam de um “programa de formação missional” na categoria de “curso livre”.2 A grade curricular paralela é explícita em seus objetivos, com disciplinas como “vida cristã”, “missões e evangelização”, “agências missionais” e “plantio e revitalização de igrejas”.2
O programa é oferecido em regime integral e residencial. Os alunos moram em casas coletivas próximas ao campus, separadas por gênero, e seguem uma rotina que inclui orações e leituras bíblicas.21 Os pacotes completos, que em 2022 custavam entre R$ 2.400 e R$ 3.600 mensais, incluem a graduação na UniCesumar, a formação missional, moradia, alimentação, academia e aulas de inglês.22
Essa é uma sofisticada estratégia de “entrismo” profissional e cultural. Enquanto a entrada de missionários tradicionais em terras indígenas enfrenta crescentes barreiras legais e sociais, profissionais com diploma superior são frequentemente vistos como provedores de serviços essenciais, especialmente em contextos de omissão estatal.24 Ao formar um profissional para ser, em sua essência, um missionário, a UniMissional busca contornar essas barreiras de acesso. Um “arquiteto com propósito” pode redesenhar uma aldeia sob uma ótica cristã; um “psicólogo missional” pode reinterpretar questões espirituais como distúrbios, atuando para desestruturar a cosmologia local a partir de uma posição de autoridade profissional. É uma ameaça de etnocídio mais sutil e, talvez, mais eficaz, pois opera de dentro para fora.
O eixo do poder: Deus, Pátria e Dinheiro
A UniMissional floresceu sob a proteção do governo de Jair Bolsonaro, dentro de um ecossistema cuidadosamente articulado que lhe proveu financiamento, legitimidade e influência. O principal vetor dessa engrenagem foi o programa Pátria Voluntária, criado por decreto presidencial em 2019 e liderado pela então primeira-dama Michelle Bolsonaro. Apresentado como uma iniciativa para fomentar o voluntariado, o programa na prática funcionou como um hub para direcionar recursos de doações privadas para organizações da sociedade civil alinhadas ideologicamente com o governo.
O Instituto Missional não foi apenas um dos beneficiados; foi o campeão em volume de recursos recebidos. A instituição embolsou R$ 391.854, repassados pela Fundação Banco do Brasil, sem qualquer edital público ou processo seletivo transparente, levantando sérias suspeitas sobre a isonomia do processo.5 Para completar o ciclo de influência e configurar um flagrante conflito de interesses, o presidente da UniMissional, Weslley Kendrick Silva, e seu vice, Cassiano Luz, foram nomeados conselheiros do próprio Pátria Voluntária.3
As irregularidades foram tão evidentes que levaram o Tribunal de Contas da União (TCU) a fiscalizar o programa. Embora um acórdão inicial (1141/2022) tenha se declarado incompetente por se tratar de recursos privados 5, uma deliberação posterior (Acórdão 455/2023) foi conclusiva. O TCU constatou a ausência de “critérios objetivos e isonômicos para selecionar as instituições sociais beneficiadas” e apontou a “ingerência da esfera política sobre a condução do processo seletivo”, citando diretamente a influência de uma Ministra de Estado — Damares Alves — na escolha de uma das entidades.27
Damares, então Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, foi uma figura central na rede de apoio. Pastora evangélica com longa atuação em agências missionárias como a Jocum, Damares utilizou sua posição no governo para conectar o projeto da família Matos Silva ao aparato estatal. Uma ata de reunião do Pátria Voluntária, obtida via Lei de Acesso à Informação, revela que a ministra indicou nominalmente a Associação de Missões Transculturais Brasileiras (AMTB) para receber recursos do programa.6 A AMTB, que congrega as principais agências missionárias do país, era vice-presidida por Cassiano Luz, o mesmo da UniMissional.3 A conexão não poderia ser mais direta.
Enquanto agia para favorecer projetos missionários, o ministério de Damares se omitia diante da crise humanitária que se instalava na Terra Indígena Yanomami e chegava a pedir o veto de Bolsonaro a medidas que garantiriam água potável e leitos de UTI para indígenas durante a pandemia. A justificativa para o veto era a de que os povos não haviam sido “consultados pelo Congresso Nacional”, um argumento cínico vindo de um governo que sistematicamente violava o direito à consulta prévia.
O modelo de financiamento era “trançado”, combinando fontes públicas e privadas para dificultar o rastreamento. Enquanto o Pátria Voluntária direcionava doações privadas para ações como a “Missão Amazonas” 2, a UniCesumar, base do projeto, atuava como um grande captador de recursos públicos de programas educacionais. Alunos da UniMissional, por estarem matriculados na UniCesumar, podiam se beneficiar de programas federais como o Fies e o ProUni, conforme apontado em um Requerimento de Informação na Câmara dos Deputados.3
Apenas em 2020, ano de lançamento da primeira turma da UniMissional, a UniCesumar recebeu R$ 9,1 milhões da Prefeitura de Maringá através do Promube, um programa de bolsas financiado por renúncia fiscal, abocanhando mais de 85% do total do programa municipal.3 Esse arranjo demonstra a captura de partes do aparato estatal para servir a uma agenda ideológica específica: a expansão do cristianismo evangélico conservador como força de transformação social e política, disfarçada de ação social e educacional.
A lei da terra vs. a lei de deus
As operações e a própria concepção da UniMissional colocam a instituição em uma rota de colisão direta com o arcabouço jurídico que protege os direitos dos povos indígenas. O pilar dessa proteção é o Artigo 231 da Constituição Federal de 1988, que é inequívoco ao reconhecer “aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam”.37 A atividade de proselitismo religioso, cujo objetivo final é a substituição de um sistema de crenças por outro, representa uma violação direta do espírito e da letra deste artigo.12
Esse direito à autodeterminação cultural e religiosa é reforçado pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário e que possui status supralegal no país. A convenção obriga o Estado a reconhecer e proteger “os valores e práticas sociais, culturais, religiosos e espirituais” dos povos indígenas.40 Além disso, estabelece o direito fundamental à consulta prévia, livre e informada sempre que medidas legislativas ou administrativas sejam suscetíveis de afetá-los diretamente.41 A entrada de missões evangelizadoras em seus territórios, com o potencial de desestruturar profundamente seu modo de vida, enquadra-se perfeitamente como uma medida que exigiria tal consulta.
A estratégia de “entrismo” da UniMissional, ao formar profissionais de saúde, educação e engenharia para atuarem como missionários, é uma forma de contornar essa exigência. Um profissional oferecendo um serviço essencial não se apresenta como uma ameaça que demande consulta, mas sua atuação confessional pode ser ainda mais desagregadora. Essa tática ignora a autonomia dos povos e impõe uma agenda externa sob o disfarce da ajuda técnica.
A laicidade do Estado, garantida pelo Artigo 19 da Constituição, também é posta em xeque. A Carta Magna veda ao poder público “estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança”. O modelo de financiamento da UniMissional, contudo, desafia diretamente esse princípio. Como detalhado no Requerimento de Informação nº 2021 na Câmara dos Deputados, há fortes indícios de que o projeto missionário se beneficia indiretamente de recursos públicos.3
Alunos matriculados na UniCesumar, que é a base do programa, têm acesso a financiamentos e bolsas de programas como o Fies e o ProUni. Embora o dinheiro não seja repassado diretamente ao Instituto Missional, ele subsidia a formação acadêmica que é parte indissociável do “pacote” oferecido. Na prática, o Estado está custeando parte da formação de indivíduos cujo objetivo final, explicitado pelo programa, é a evangelização.3
A parceria com o programa Pátria Voluntária durante o governo Bolsonaro agrava essa questão. Embora os recursos fossem de doações privadas, o programa operava sob a chancela e a estrutura da Presidência da República, utilizando o prestígio e a máquina estatal para direcionar fundos a um projeto com fins claramente confessionais. Essa simbiose entre o aparato governamental e uma agenda religiosa específica fere o princípio da impessoalidade e da neutralidade que deve reger a atuação do Estado.
A arquitetura jurídica da UniMissional parece ter sido projetada para explorar uma “zona cinzenta” da legislação. Ao estruturar a formação missionária como um “curso livre” privado, acoplado a uma universidade que legalmente pode receber recursos públicos para seus alunos, a instituição cria um firewall aparente entre o dinheiro do Estado e o fim religioso. Essa estratégia, embora possa operar nos limites da legalidade formal, viola frontalmente o espírito da Constituição e o princípio da laicidade.
A Caipora Resiste: espiritualidades insurgentes e alianças de reencantamento

O avanço de uma nova e sofisticada fronteira missionária não ocorre sem resistência. As principais organizações de defesa dos direitos indígenas no Brasil têm denunciado sistematicamente os perigos do proselitismo religioso. Em janeiro de 2020, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) emitiu uma contundente nota de repúdio contra a nomeação de um missionário para chefiar o setor da Funai responsável por povos isolados, classificando a atuação histórica de missionários como promotora de “genocídio e etnocídio”.44
Lideranças do Vale do Javari, a terra indígena com a maior concentração de povos isolados do mundo, denunciam repetidamente a invasão de missionários, alertando para o risco de contaminação e desestruturação cultural.7 Em 2019, a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) denunciou a entrada ilegal do missionário norte-americano Andrew Tonkin, que teria chegado a 300 metros de áreas de isolados. Segundo um pastor indígena, Tonkin teria dito em uma reunião: “‘nem a lei brasileira e nem a Funai vão impedir a obra de Deus'”.45
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi), em seus relatórios anuais de “Violência Contra os Povos Indígenas”, documenta diversas violações, incluindo o proselitismo e a violência religiosa, como a queima de casas de reza e ataques a lideranças espirituais.46 O relatório referente a 2022 destaca que o ciclo do governo Bolsonaro foi marcado pela intensificação da violência e pelo desmonte das políticas de proteção, criando um ambiente favorável para a atuação de grupos que visam explorar os territórios e suprimir as culturas indígenas.48
Apesar da gravidade da ameaça, uma busca nos materiais de pesquisa não revelou denúncias nominais diretas contra a UniMissional por parte de grandes lideranças como o Cacique Raoni ou a Ministra Sonia Guajajara. As denúncias tendem a se concentrar em atores históricos e em violações de campo mais explícitas. Essa ausência de menção pode ser um indicador da eficácia da estratégia de “baixa visibilidade” da UniMissional, que, ao focar na fase de “formação”, evita os conflitos abertos que atraem a atenção da mídia.
Paralelamente, observa-se um vigoroso movimento de reafirmação das espiritualidades indígenas. Um exemplo é o “processo de retomada” do povo Yawanawá, no Acre. Após um período de intensa influência evangélica, em que missionários proibiram o uso da língua nativa e deslegitimaram medicinas tradicionais, a comunidade decidiu reverter os danos. Em um gesto potente, todas as Bíblias da aldeia foram recolhidas e queimadas numa grande fogueira — não como um ato contra a fé cristã em si, mas como uma reação ao uso da fé como instrumento de dominação.49
Outro símbolo poderoso desse movimento foi o retorno do Manto Tupinambá ao Brasil em julho de 2024, após mais de 300 anos na Europa. O evento foi celebrado pelo governo federal como um marco na reparação histórica e na reafirmação dos direitos indígenas como uma prioridade de Estado.50 Esse fortalecimento cultural representa a principal linha de defesa contra o avanço de projetos etnocidas.
Essa insurgência não se dá apenas na denúncia, mas na prática cotidiana da espiritualidade ancestral. Em diversas regiões, povos têm reativado suas pajelanças, reerguido suas casas de reza e promovido encontros que fortalecem vínculos intergeracionais. É uma teologia insurgente em curso — uma que não se curva diante da cruz, mas que dança com os encantados, planta com a lua e canta com os rios.
A Missão Continua, o Quebranto Não Terminou
A transição de governo em janeiro de 2023 desmantelou o ecossistema de apoio explícito do Executivo Federal que nutriu a UniMissional em sua fase inicial. Contudo, a instituição não apenas sobreviveu à mudança de cenário político, mas continua a operar ativamente, evidenciando um modelo de negócio resiliente. Longe de encerrar suas atividades, a UniMissional segue em plena operação, com seu site ativo e um processo seletivo realizado para o ano de 2024.4
A vitalidade da instituição no período pós-Bolsonaro também é visível em sua participação em redes da sociedade civil evangélica. Em setembro de 2023, por exemplo, a UniMissional foi uma das parceiras na campanha de saúde mental “Vem pra Vida”, ao lado de outras organizações como a Juventude Batista Brasileira.52 A base da operação, a parceria com a sólida estrutura da UniCesumar, permanece intacta, garantindo o acesso a uma vasta gama de cursos e a uma infraestrutura de alta qualidade.4
Com o fim do alinhamento direto com o Palácio do Planalto, a UniMissional parece ter adaptado seu discurso público. A comunicação mais recente foca em temas menos politizados e mais voltados para as aspirações da juventude cristã, como “desenvolvimento da vocação”, “propósito” e saúde mental.51 A página do programa no site da UniCesumar destaca a metodologia de Service-learning e a “transformação integral do ser humano”, utilizando uma linguagem pedagógica que é mais palatável e menos controversa.20
O período do governo Bolsonaro foi a “fase de startup” da UniMissional, um “verão” político que permitiu à instituição receber um alto investimento de capital político e financeiro para se estabelecer. A fase atual é a de “consolidação”. Tendo aproveitado o ambiente favorável para criar uma estrutura robusta, a instituição agora entra em uma etapa focada na sustentabilidade de longo prazo, independente de quem ocupe a presidência.
Isso demonstra a transição de um modelo de proselitismo dependente da patronagem estatal para um modelo de “institucionalização resiliente”. A ameaça representada pela UniMissional não desapareceu. Pelo contrário, ela evoluiu. Não se trata mais de uma ação coordenada com o governo federal, mas de uma instituição autossustentável que continuará a produzir sistematicamente agentes de proselitismo qualificados profissionalmente.
A evangelização dos povos indígenas no Brasil contemporâneo não é uma história que ficou no passado — é uma operação em curso, atualizada e institucionalizada. O quebranto atua tanto nas comunidades que perdem suas lideranças espirituais quanto nas práticas culturais que se esfarelam sob a pressão do discurso do pecado. Mas o quebranto não é só ruína — é também sintoma da força que ainda pulsa. Porque onde há encantados, há contrafeitiço. Onde há Caipora, há guardiã. Onde há floresta viva, há resistência.
As igrejas podem tentar cercar esses mundos com cruzes e diplomas. Podem distribuir bíblias, construir templos, oferecer cursos e bolsas. Mas enquanto houver cantos, sonhos, rituais e encantados, o projeto colonial continuará sendo contestado por outras cosmologias — tão verdadeiras quanto invisíveis aos olhos da razão ocidental. A Caipora não se converteu. E com ela, seguem muitas outras presenças que, mesmo perseguidas, continuam habitando os interstícios do Brasil profundo — aquele que não se deixou salvar.
Referências citadas
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- A vida missional na graduação – Unimissional, acessado em outubro 15, 2025, https://unimissional.org.br/a-vida-missional-na-graduacao/
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- A Associação de Missões Transculturais Brasileiras (AMTB) propõe-se, por meio das organizações filiadas, a responder com relevância aos desafios atuais. Nossas organizações unem ação à proclamação, trabalhando a serviço das igrejas enviadoras, que escolhem usar agências como um braço a seu serviço. – transforme.tech, acessado em outubro 19, 2025, https://amtb.transforme.tech/mural/catalogofiliados
- Lista de organizações missionárias é publicada pela AMTB – Editora Ultimato, acessado em outubro 19, 2025, https://www.ultimato.com.br/conteudo/lista-de-organizacoes-missionarias-e-publicada-pela-amtb
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- Violência contra povos indígenas: invasões aumentam pelo sexto ano seguido – Greenpeace Brasil, acessado em outubro 19, 2025, https://www.greenpeace.org/brasil/blog/violencia-contra-os-povos-indigenas-invasoes-e-exploracao-ilegal-aumentam-pelo-sexto-ano-seguido/
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- Relatório Violência contra os Povos Indígenas no Brasil – dados de 2022 – Biblioteca Digital, acessado em outubro 19, 2025, https://bibliotecadigital.mdh.gov.br/jspui/handle/192/12254
- Uma reflexão pessoal sobre a missão cristã em territórios indígenas – O Eco, acessado em outubro 19, 2025, https://oeco.org.br/colunas/uma-reflexao-pessoal-sobre-a-missao-crista-em-territorios-indigenas/
- Manto Tupinambá: Governo Federal celebra retorno do artefato sagrado ao Brasil e reafirma direitos indígenas como uma prioridade, acessado em outubro 15, 2025, https://www.gov.br/funai/pt-br/assuntos/noticias/2024/manto-tupinamba-governo-federal-celebra-retorno-do-artefato-sagrado-ao-brasil-e-reafirma-direitos-indigenas-como-uma-prioridade
- Processo seletivo 2024, atenda seu chamado – Unimissional, acessado em outubro 15, 2025, https://unimissional.org.br/um-2024/
- “Vem pra Vida” alerta para campanha Setembro Amarelo – Notícias …, acessado em outubro 15, 2025, https://www.rtmbrasil.org.br/blogs/noticias-rtm/2023/09/vem-pra-vida-alerta-para-campanha-setembro-amarelo





